quarta-feira, 30 de março de 2011

Observação de Baleias em Victoria BC





Eu já sabia sobre o passeio de observação de baleias desde antes de ir para Victoria. Era uma das coisas que eu queria fazer, porque, afinal, nem só de compras vive um intercambista. É preciso alimentar a nossa alma com aventuras e coisas que nunca fizemos antes. Em geral, eu não recomendaria esse passeio no inverno, porque apenas duas empresas operam durante essa época, entre elas a Prince of Whales (trocadilho pq Whales ao mesmo tempo significa Pais de Gales e Baleias), e mesmo elas não garantem o avistamento delas, e dizem que durante esse periodo, eles fazem um tour da vida selvagem. E fica MUITO frio no mar aberto. Se em terra firme devia estar fazendo uns 6 graus, no mar provavelmente a sensação térmica era de 15 graus negativos. O professor de ingles falou que essa sensação térmica, causada por um vento frio, era chamada de windchill.

Mas se você, como eu, não pode se dar ao luxo de esperar a primavera chegar, não desperdice a oportunidade de ter essa experiência praticamente religiosa. Eu que nunca achei graça em circo e zoologico, me vi ali, pagando 95 dólares (85 mais impostos para estudantes) sem nem saber se eu veria mesmo uma baleia. É diferente, eu acho, ver o animal assim, no seu habitat natural, sem ser em um tanque fazendo truques para crianças barulhentas. Eu NÃO gostei tanto assim do show no Sea World. Prontofalei! 
Em tempo: para os leigos como eu, as Orcas não são baleias, apesar do apelido: baleia assassina. São golfinhos.

Você pode agendar o passeio e escolher a melhor empresa no balcão de informações localizado no Inner Harbor. Lá eles também tem folhetos para passeios em cavernas, para o Butchart Gardens e para os castelos da região. Acordei cedo, e já estava lá por volta das dez da manhã, do sábado, porque na sexta feira tinha chegado lá e eles já haviam fechado. Me informaram, no guichê, que nenhuma das excursões havia sido fechada. Uma das empresas precisava de, no mínimo, mais duas pessoas, o que seria perfeito, porque uma alemã tinha acabado de entrar, interessada. A Prince of Whales ainda precisava de quatro, um pouquinho mais difícil. Só que o bote deles, estilo zodiac, era melhor para observar baleias, e cabia apenas 10 pessoas. Nada pior do que ficar se acotovelando com um monte de estranhos, para conseguir espiar o animal de longe, como se eu estivesse em um show de rock, e a baleia estivesse no palco, quebrando uma guitarra. Imagem perturbadora, eu sei, mas eu me sentia meio assim, como se estivesse pra ver um astro do rock. Será que veríamos de perto? Será que ela sequer nos daria o ar da sua graça?

Eles conseguiram o número de pessoas que faltava. Por volta de meio dia e quinze, entramos em um gabinete cheio de macacões cor de abóbora. Os guias do passeio disseram que tínhamos que colocar aqueles macacões por cima da nossa roupa, a mais quente possível. Por sorte eu estava usando um casaco de esqui. Também não levamos nossas bolsas. Deixamos dentro desse galpão. Eu só carreguei a máquina.



Barco Zodiac
No caminho para fora, conheci duas mulheres da Suecia, e uma de Vancouver, que estava em Victoria só por um dia. O guia perguntou quem queria se sentar na frente. Eu e as Suecas nos prontificamos, mais do que depressa. Ninguém enfiaria o cabeção na minha frente.


O passeio dura de duas a três horas. No caminho, o guia nos explicava vários fatos sobre as baleias, como o fato de que elas são monogâmicas, tem apenas um filhote a cada dois anos, e que a gente poderia ver baleias residentes ou em trânsito. Que as orcas estavam sinalizadas , ou seja, cada uma tinha sido identificada, com uma espécie de nome composto de numeros. Ele dizia que tinha um aparelho para ouvi-las, além de um comunicador, que usava para perguntar para as pessoas em terra em que direção elas poderiam estar. E cada vez que o bote se movia, um frio intenso entrava nos ouvidos, a ponto de doer. Consegui, com algum esforço, amarrar o capuz do macacão por cima do capuz do casaco, sobre o toque (se pronuncia tuk), que é a paravra emprestada do francês para gorro. Resultado, fiquei parecendo o Kenny, do Southpark. Aquele que SEMPRE morre no final.






Então, quando eu já estava desanimando, e me conformando com o fato de que paguei quase duzentos reais só por um passeio de barco, o primeiro grito. As suecas do meu lado tinham visto a barbatana de uma baleia, de longe. E eu não conseguia ver, de jeito nenhum.

Em seguida, apareceu outra. E mais outra. Logo, havia um grupo de orcas juntas. O guia falou que elas deviam estar caçando por ali. A essa altura, eu tinha que subir no meu banco, porque todo mundo ficava em pé quando elas surgiam, e se isso acontecia do lado esquerdo do bote, eu me dava mal. Mesmo assim, foi emocionante. Elas estavam mesmo caçando uma lontra. O guia, animado, não parava de dizer que não esperava que isso fosse acontecer.  Logo, eu estava usando o zoom da camera para ver melhor até que a bateria começou a descarregar, e já não dava mais para deixar a camera parade, ligada, para conseguir a foto perfeita. E eu estava com um pouco de inveja, admito, das suecas, que estavam conseguindo umas fotos incríveis.


Baleia Orca fazendo o movimento chamado Spying Hop
Mas a minha hora chegou. Em um dado momento, uma das orcas emergiu e dava para ver a cabeça dela toda. Era muito diferente das milhares de fotos de barbatana que eu tinha até então. Tirei a foto com pressa, antes que a camera desligasse sozinha por causa da bateria. Eu consegui. O que parecia uma barbatana, era de fato uma orca olhando para cima, espiando, antes de voltar para a água. Esse movimento costuma durar uns 30 segundos e se chama spying hop. E eu consegui tirar uma foto. De longe, mas foi emocionante mesmo assim. Valeu completamente o passeio. Mesmo a outra guia, Marion eu acho, disse que tinha se abaixado por um momento, e quando olhou, a orca já tinha voltado pra água.

Depois disso, passamos pela costa para ver os leões marinhos, mas a essa altura, a minha bateria já não existia mais. Vimos também uma águia careca, que sobrevoou as nossas cabeças para se exibir, só para voltar a se empoleirar onde estava antes.

Voltamos para terra firme, e bebemos chocolate quente de graça, antes de partir. Ótimo passeio. Cinco estrelas. Valeu cada centavo!

Um comentário:

Raquel M. Linhares disse...

Depois de 2 horas a 15 graus negativos, o mínimo que eles podiam era dar um chocolate quente pra vocês chegarem vivos em casa.. rss...

Pena que no RJ pouco se vê de baleias. Eu, nas barcas, me contento com as tartarugas e peixes sufocados pulando na água!