terça-feira, 19 de abril de 2011

O castor e o disco de hockey


Eu e o mascote empolgado. 

Em frente ao Save on Foods memorial center
Ir para o Canadá e não assistir a uma partida de Hockey é o mesmo que vir para o Brasil e não assistir a uma partida de futebol ou ir para a Argentina e não assistir o Tango. Você não precisa gostar do esporte. Não precisa nem ser o jogo de um time super famoso, como o Canucks (pelo menos em Victoria, eles são bem famosos, tipo um time da primeira divisão de futebol aqui). Pode ser algo como um jogo do Salmon Kings, o time local de Victoria, contra o Alaska. É simplesmente necessário para conhecer e receber a cultura do país que você está visitando. 

Como este blog é sobre intercâmbio cultural, o que significa troca de culturas, não podia faltar o Hockey aqui. Tem outros esportes, como o curling, ou o esqui, por exemplo, que fazem parte da cultura canadense. Mas os canadenses RESPIRAM Hockey. Assim como no português várias expressões têm a ver com futebol, no ingles Americano, eles fazem referências ao beisebol quando re referem a sexo, por exemplo (first base, second base, hit home) Até as gírias e expressões do inglês canadense têm a ver com Hockey.


Tudo bem, a Cindy detestava Hockey. Eu também sou uma brasileira que não liga pra futebol, mas somos amostras viciadas. Alem do mais, eu fiquei doente no dia em que a minha turma foi ao jogo de curling, então nem posso falar desse esporte.

De qualquer forma, quando cheguei em Victoria, já havia planejado ir a um jogo de Hockey.  Eu estava decidida, nem que fosse preciso cruzar o oceano e ir para Vancouver para isso. Felizmente não foi necessário, já que tive a oportunidade logo na primeira semana. E chamei a Bini e a Saori para irem comigo. Na verdade, tentei botar pilha para a turma toda ir, mas os outros coreanos quiseram ir no grupo deles, e sentamos separados.

No Wendy's, antes do jogo
O jogo aconteceria no Save on Foods Memorial Center, que é um estadio no centro da cidade. Bom, dizem que é no centro, mas dá uma boa caminhada. No caminho, disse pra Bini e pra Saori que as tirinhas de frango do Wendy’s eram muito mais gostosas do que a comida do Mc Donald’s. Claro que eu ainda não tinha provado as batatinhas fritas em Victoria.

Mas estou me desviando do assunto. Era semana dos estudantes. Isso significa que, apresentando a carteirinha da UVIC (ou da faculdade Camosun) que os alunos fazem no primeiro dia de aula, o ingresso custa apenas 10 dolares, e não 17, que é o preço costumeiro. E o refrigerante é gratis.

Eu com a camisa do Salmon Kings


Saori, Bini e eu na loja de presentes

Entramos com algum tempinho de folga e, como uma Becky Bloomista que se preza, fui direto para a loja de presentes. Eu pretendia comprar uma camisa de uniforme, e de repente conseguir um autógrafo de um dos jogadores, mas a camisa custava 90 dolares, e de jeito nenhum eu gastaria quase 200 reais por uma camisa que eu provavelmente só usaria por um mês, e ficaria como lembrancinha no Brasil. Camisas de esportes não fazem muito o meu estilo. Então, acabei comprando uma camiseta de 27 dolares (mais impostos) do Salmon Kings. Porque, afinal de contas, eu ainda tinha a fantasia de que conseguiria um autógrafo e tiraria uma foto com um dos jogadores. Assim como, quando eu tinha uns 4 anos e fui para o zoológico pela primeira vez, tinha a fantasia de que o zoológico era tipo um safari em que a gente interage com os bichos, e no final fiquei super frustrada quando vi que estavam em jaulas. Essa sou eu.

De qualquer forma, se alguém conseguiria um autógrafo com os jogadores, eu seria essa pessoa. Não me leve a mal, eu não estou sendo convencida. Mas era extrovertida o bastante para pedir para estranhos na rua tirarem fotos para nós na rua. E já conhecia o poder de uma estudante de intercâmbio com sotaque.  Além do mais, por mais que Victoria tivesse vários estudantes estrangeiros (é uma cidade universitária, afinal de contas), a maior parte deles era composta de asiáticos, tímidos por natureza) No intervalo, perguntei para a mulher que estava enfileirando as crianças para entrar na quadra, no gelo, sei lá, e falei: “Por favor, nós somos intercambistas, e gostaríamos muito de tirar uma foto com os jogadores”. Foi mais fácil do que eu pensava, porque a mulher me disse para ir esperar no local por onde os jogadores saem, logo antes do fim da partida.




Aliás, deixa eu falar do jogo. Achei muito divertido (nem tanto na TV) e emocionante. 






A cada cinco minutos, um jogador atirava o outro na barreira transparente, fazendo o maior barulho. Parecia um filme de terror, no bom sentido, porque do nada a gente dava uns pulos. Tem também um mascote, um castor (o castor é o animal nacional, por ser diligente e trabalhador, construir represas e tal) alucinado, que ficava dançando, na maior empolgação, as músicas animadas que tocavam, não só no intervalo, mas a cada ponto. Quando ele estava saindo do campo, deu um puck para a Bini. 

Bini mostrando o puck que ganhou do mascote
Para enxergar melhor os lances, eu usava o zoom da camera. Enfim, achei um jogo rápido, com três tempos de 20 minutos. E talvez uma prorrogação com 5 a 20 minutos adicionais.




Violência infantil
E o show do intervalo então? Além das crianças que fizeram uma demonstração da violência, teve uma corrida de bicicletas infantis, em que dois adultos tentavam passar por balizas sem cair.

Quando o jogo estava em três a zero a favour do Salmon Kings, a Saori pediu desculpas e disse que tinha que ir embora, porque de acordo com as regras da família em que ela estava, ela tinha que tomar banho até as dez da noite. Falei que tudo bem, que podíamos ir numa outra vez, mas por dentro estava decepcionada e um pouco irritada. Enfim, saimos do jogo e eu andei com elas até o ponto de onibus.

Acontece que o ponto de onibus delas era diferente do meu, conforme eu descobri tarde demais. E quando eu caminhava de volta para o meu ponto, na direção oposta, vi que o estádio ainda estava de portas abertas e aceso. Foi convite suficiente. “ Você não pode entrar, garota”, o funcionario falou. Ao que eu respondi “ mas eu tenho o ingresso. Eu estava assistindo, mas tive que acompanhar a minha amiga até o ponto de ônibus” . Ok, por mais que fosse verdade, isso nunca colaria no Brasil, e eu nunca conseguiria entrar, como consegui, na cara dura. Mas dessa vez não voltei para o meu lugar. Fui para o lugar por onde os jogadores sairiam no final do jogo. E assisti lá o resto da partida. Eu queria tirar uma foto com o goleiro, o David Shanz (sim, eu acabei de pesquisar o nome dele de novo na Wikipedia).  Mas na hora em que eles saíram, o jogador que me deu atenção foi o Milan Gajic, que é tipo, a estrela do time.
Eu e o Gajic
A propósito: O jogo se chama Hockey no gelo. Existem varios tipos de Hockey. Tem o hockey praticado na rua, sem patins nem nada, e uma bola no lugar do puck, o disco de borracha, que tive a oportunidade de ver uma vez no Inner Harbor. Tem até um time feminino. Tem ainda o Hockey em patins inline, e o Hockey em patins daquele modelo antigo, de duas rodas na frente, duas atrás, com algumas variações nas regras.  

terça-feira, 12 de abril de 2011

Onde comer em Victoria


Em termos de alimentação, observei que os canadenses têm hábitos alimentares saudáveis. Claro que é possível engordar, independente do tipo de residência escolhido, se você fizer escolhas erradas. Como já disse anteriormente, fiquei em uma casa de família, que incluía café da manhã, almoço e jantar. E a minha host raramente comia comidas gordurosas, fazendo sempre pratos com legumes e verduras.  Como em geral eu andava o dia todo pelo centro, e estava com medo de engordar, chegava sempre com muita fome e batia um prato de comida. Tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá, o jantar costuma ser por volta das 6 horas, 6 e meia.

Mas, como nem sempre a gente come em casa, eu comi em alguns lugares bem legais.
Sticky Wicket/Big Bad John’s: Esses dois pubs tem o mesmo menu. O preço varia entre 8 dólares e 12 dólares pelo sanduíche. O tamanho e a qualidade são bem parecidos com os do outback. Então, se você curte a rede temática de comida australiana, ainda há uma vantagem. O Sticky Wicket e o BBJ’s só lotam aos sábados . Mesmo quando lotam, a espera não é tão grande.

Surá. Gosto é uma coisa pessoal, mas eu achei esse restaurante caro demais, para a qualidade da comida.

The Mint: O The Mint é um restaurante perfeito para encontros românticos. Luz fraca, exceto pelos pisca-piscas, sem música alta, e comida tailandesa e italiana, em geral. O prato mais caro da casa é um curry de carneiro, por 17 dólares canadenses. O serviço é ótimo. Ambiente super aconchegante.



The Mint

The Flying Otter (A lontra voadora): Esse restaurante localizado no Inner Harbor lota às quartas, por uma razão. Trata-se do Wings Day, (trocadilho com Wednesday), quando cada asinha de frango custa 35 centavos. Uma cesta com 10, então, custa 3,50. Um grupo de amigos pode pedir cestas de vários sabores diferentes (sugiro o Honey Garlic e o Teriaki), e no final a conta sai por míseros 10 dólares. E dá pra comer muito!


Quartas no Flying Otter

The Maude Hunters Pub: Foi lá que eu comi o melhor sanduiche da minha vida. Carne com molho madeira, e shitaki. Eles também têm uma promoção de asinhas de frango às quartas, ainda mais barata do que a do Flying otter: 25 centavos.

Earls: Mais um na linha dos garcons/bartenders gatos. No Earls o Mr Universo é o Matt. A comida também é gostosa. Eles servem desde massa até sanduíches. Adorei um hamburguer com cogumelos que comi lá. Provei um fetuccinni que também estava bem saboroso.

Sexta Feira no Earls


Fernwood Inn: Esse restaurante na Fernwood Village, dentro da Fernwood Road, é bastante agradável. Gostei principalmente das yam fries, batatas doces fritas. Não me lembro do resto.

Tim Hortons: O Tim Hortons não é bem um restaurante. É mais um Starbucks da vida, com café, chocolate quente e guloseimas. MAS é canadense. Não deixe de ir pelo menos uma vez, se quiser dizer que foi ao Canadá. Donuts por 99 cents.


Saboreando o Tim Horton's no Mayfair Mall

MC Donald’s: As batatas fritas do Mc Donald’s de Victoria são deliciosas, principalmente . O sanduíche tem gosto de isopor, como todos os outros.

Mas vale notar que o preço do cardápio não é exatamente o preço que você paga. Sobre esse preço, ainda tem um imposto que varia entre 10 e 12%, e a gorjeta. Por outro lado, a maior parte dos restaurantes oferece refill gratis de refrigerante.

terça-feira, 5 de abril de 2011

sowoneul malhaebwa! Ou: a cultura asiática no Canadá





Quando fazemos intercâmbio, conviver com outras culturas faz parte da experiência. No meu primeiro intercâmbio, nos Estados Unidos, o convívio se limitava mais ao contato com outros americanos, e no máximo, imigrantes mexicanos. Mas também tive uma amiga japonesa, uma alemã e uma austríaca, e conheci outros intercambistas nas festas do intercâmbio, inclusive um brasileiro.


Em Victória, no Canadá, vi poucos negros, nativos (first nations) ou esquimós. Mas os asiáticos estão bem longe de serem minoria, principalmente em Victoria e Vancouver. A cultura asiática está por toda parte, sobretudo a coreana. Logo que cheguei no SUB (Student Union Building), em frente ao ponto de onibus, percebi a diferença, já que eu era a única “ocidental” naquele grupo. Depois, fomos fazer a prova de nivelamento, e eu vi alguns árabes, as mulheres de véu, e outras pessoas cuja nacionalidade não dava pra determinar logo de cara (descobri depois que eram brasileiros). O resto era coreano ou japonês. O engraçado é que eles esperam que a gente SAIBA a diferença física entre eles de cara. Demorou pelo menos umas duas semanas para lembrar o nome de todo mundo (meio desesperador, se você pensar que o curso durava apenas um mês) e os seus respectivos países.

Quando fomos nivelados, os professores nos deram pedaços de papel para escrevermos os nossos nomes (ou apelidos). Assim, Yu Bin Kim virou Bini, Ju Young virou Joy, Jim Bum virou JB (e depois, Justin Bieber ou Jaybe bird) e assim por diante. Todos os dias, a professora Elisabeth Labrick escrevia uma frase inspiradora no quadro, e tínhamos que comentar com experiências pessoais. Nas semanas subsequentes, cada um escrevia a sua própria frase no quadro, para motivar a discussão. Era uma forma de conhecermos um pouco de cada cultura. Na última semana, cada um teve que fazer uma apresentação em sala sobre um aspecto da sua cultura.

Mas era depois das aulas que nos conhecíamos. Foi no almoço, durante o primeiro dia, que descobri que na Coréia do Sul, eles contam a idade desde o primeiro dia de nascido. Ou seja, quando na verdade o resto do mundo está fazendo um ano, um coreano da mesma idade está fazendo dois. Que  em coreano, “anion asseo” que dizer oi, “nê ilimin Larissa” quer dizer “Meu nome é Larissa”, e que “dado ara” significa “eu sei”. Eu usava esta última quando eles começavam a engatar na conversa em coreano, e esqueciam que tinha gente de outras nacionalidades por perto. Bom, em geral era só uma brasileira, eu, mas não deixa de ser falta de educação.

Foi depois das aulas que eu descobri que a Naho, que era metade japonesa, metade coreana, gostava de Sex and the City, assim como eu. Que eu descobri que a Bini, a Joy e a Min cantavam super bem, e gostavam de praticar as coreografias do grupo Girls Generation, uma banda de umas 15 garotas, no banheiro. E que esse grupo é tão famoso que tem até musicas gravadas em japonês. Mas no Brasil, acho que só a minha amiga Jordana conhece (ela diz que outras pessoas conhecem, mas eu duvido). Mas quem sou eu para falar? Eu gostava das músicas da Thalia, quando tinha 13 anos.
Na primeira semana, fui em um karaokê coreano com a Bini, com a Joy e a Min. Logo que entraram, disseram “anion asseo” para o dono, que ficou todo feliz e nos deu um desconto. Cantamos por uma hora e meia, por vinte dólares. Enquanto eu escolhia músicas como “Don’t Speak”, e “Barbie Girl” ou “Telephone” (impossível, por sinal) elas escolhiam Hits como “Hoot” e Genie (sowoneul malhaebwa, que significa “Conte-me os seus desejos”…bem sugestiva hein?).
Min, Bini e eu, no Karaoke coreano
Eu, Min e Joy no Karaoke

Foi depois da aula, que fomos ao Surá, no Chinatown (devia ser Koreatown, porque tinha muito mais coisas coreanas do que chinesas), e comi Chap Chae, uma sopa de macarrão transparente de batata com o que parecia ser carne assada e legumes, e arroz como guarnição. É possível misturar o arroz na sopa, ou pescar a carne com os hashis, para mergulhar depois no tempero. Bom, possível é modo de dizer. Por mais acostumada que eu esteja a comer com hashis, os palitinhos sempre são de madeira, não de prata, e eu nunca tive que comer SOPA DE MACARRÃO com eles. Uma trabalheira danada. Isso porque não tinham “tomanocu”, uma comida típica coreana. Juro que é verdade que esse prato existe. Pode procurar na internet! Enfim, achei a comida deles um pouco apimentada demais para o meu gosto, Mas isso sou eu. No dos outros pode ser refresco (Tum Tum Tsss). Na verdade, o churrasco coreano até que tem um gosto bom, depois que você toma duas latas de coca cola, para recuperar o paladar. Bem melhor do que a sopa de macarrão transparente impossível de achar.




Eu no Surá, filando experimentando a comida da Bini. Aviso e comunico que não experimentei Tomanocu!



Chansong e Jieun posando pra foto, enquanto eu tentava decidir o que comer




Eu e o JB, meu irmão gêmeo coreano, no Surá (descobri que nascemos no mesmo dia, mês e ano, se considerar que na Coréia são várias horas de fuso horário à frente, e ele nasceu no dia 21 de março). 


Sobre o Chinatown, recomendo ainda um passeio de dia, quando a feira ainda está funcionando, e observar os legumes e verduras escritos em coreano, nas placas. Ou ir a uma mercearia coreana para comprar um biscoito igualzinho aos que a gente já conhece, estilo wafer ou palitinhos de chocolate, só para ver as embalagens diferentes.



Marcos, Bini e eu, na entrada do Chinatown 

Outro aspecto da cultura asiática, desta vez chinesa, que eu conheci, foi o Chá de Bolhas. A Kaori chamou a Jieun, a Chansong e eu para experimentarmos essa bebida tão polular no Canadá. Segundo a Wikipédia, o chá de bolhas é uma bebida à base de chá, com leite e açúcar, e bolhas de tapioca no fundo, mas a versão que eu experimentei tinha bolhas de gelatina. Tem gosto de Milk Shake, e você pode escolher vários sabores.






Descobri, sobre a cultura deles, que nem os coreanos, nem os japoneses, estavam acostumados a verem pessoas se beijando na rua. Boate, nem pensar. E os canadenses são iguais aos brasileiros, nesse aspecto. Se deixar, se agarram no ponto de ônibus, até alguém jogar água fria para separar.

Para os japoneses, a timidez não é apenas uma característica, mas uma virtude. É esperado deles, que olhem para baixo ao falar com as pessoas. Nunca diretamente em seus olhos. Isso seria considerado uma afronta. Acho que eles não tem nada contra quem fala olhando ligeiramente para cima, então estou tranquila. :-P Aprendi também que falam “ Itadakimas”, antes das refeições. Uma espécie de agradecimento pela comida. E que em japonês, "moshi moshi" significa alô, ao telefone.


Eu, a Naho e a Saori
Enfim, piadinhas à parte, foi muito enriquecedor conhecer essas pessoas de países tão diferentes. Isso nos ensina a conviver com as diferenças dos outros, e a respeitá-las. A perceber que não somos o centro do mundo, nem os donos da verdade. E que no final, muito mais do que pessoas que gostam de fazer sinais de vitória com os dedos nas fotos, os asiáticos têm várias coisas em comum com a nossa cultura, têm muito a nos ensinar em termos de reverência aos mais velhos, disciplina e esforço. É só ficarmos de mente e coração abertos.

A turma toda na formatura, menos os Árabes, que não compareceram no dia.


Da esquerda para a direita. Em cima: Min, Peter e Chansong. Embaixo: Jieun, Kaori, Bini e eu




Bini, eu, Saori e Naho



sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quem tem medo do Big Bad John’s?



"He said sit back down 
where you belong
In the corner of my bar 
with your high heels on"
 



Conheci o Big Bad John’s por acaso. Pretendia dar uma nova chance às boates de Victoria, e estava a caminho da Upstairs. Mas só tinha dólares americanos na bolsa, e no hotel Strathcona, eles não queriam trocar dinheiro para mim, muito menos no Seven eleven. Eu já tinha ouvido falar do bar com jeitão de salloon,  mas era sempre de dia, quando ele estava fechado.

O Big Bad John’s, assim como o pub Sticky Wicket, é um bar temático diretamente vinculado ao hotel Strathcona (onde por sinal, já me hospedei e recomendo. É bem chique, e dá pra ficar em quartos duplos por 50 dólares na baixa temporada). Literalmente ligado, tipo tem uma porta para o BBJ’s no lobby do Strathcona. Logo de cara, levei um choque. Ele era todo iluminado com luzes de natal. No chão, cascas de amendoim. Música country tocava em alto volume. Volta e meia alguém pisava em uma das campainhas do chão.


Depois de mostrar a minha identidade, me sentei em um dos bancos do bar, para esperar enquanto o bartender enchia o copo com coca cola. Achei falta de educação da minha parte pedir para trocar dinheiro assim, sem consumir nada. Todd o bartender alto e forte com voz sexy (pausa para suspiro), usava macacão jeans com blusa de flanela xadrez, assim como todos os outros. Tive que pedir para tirar uma foto com ele no interesse da ciência, afinal, não é todo dia que a gente vê bartenders vestidos de caipira:  “Só se você estiver na foto também”, ele respondeu, antes de levantar a tábua para o balcão.

Eu e o Todd




E mal dava para ver a madeira do balcão, coberta com cédulas de dinheiro de vários países. Olhei em volta. Tinha pares de patins antigos, daqueles estilo restaurante drive through, em que as garçonetes patinavam até o carro. Bilhetes de casais, que haviam se casado naquele ano. E sutiãs. Por toda parte. Sutiãs rosas, vermelhos, brancos, com rendinha ou conservadores. Sutiãs para todos os gostos e tamanhos. E descobri depois como eles conseguiam tantos modelos diferentes. Acontece que o Big Bad John’s tem uma tradição diferente: Para as mulheres corajosas que mostrarem os peitos para o bartender por três segundos, e deixarem o sutiã, eles dão uma camiseta escrita: I left my bra at the Big Bad John’s (Deixei o meu sutiã no Big Bad John’s). Na minha primeira vez no Big Bad John’s, tres mulheres se aventuraram. Duas ganharam camisetas. A terceira só queria cerveja mesmo, porque camisa tinha acabado.


“Deve ser o melhor trabalho do mundo para um homem” falei para o Todd. Ele apenas deu de ombros e respondeu, indiferente: “ Eu não olho, na hora. Quer tentar?”

“Não, obrigada”. Falei rindo. “Além do mais, você disse que as camisetas acabaram, e o meu sutiã foi caro. Fica pra outro dia”

”Eu trabalho aqui de quinta a domingo. Vem amanhã”

Vem cá, bem saidinho esse bartender, não? E um gato, total.

Larissa, do Brasil, esteve aqui 9 vezes.

Fui lá 9 vezes no total (A nota de 5 não me deixa mentir). O bom de se viajar sozinho é que você fica aberto a conhecer novas pessoas, e aprimorar o idioma, se for um país estrangeiro. Fiz amigos no banheiro, que reencontrei em outras ocasiões. E participei de despedidas de solteiro. E todas as vezes que conheci alguém que viajaria para Victória, insisti para que conhecesse o Big Bad John's.




 Tive a oportunidade de conhecer todo o staff do bar, inclusive o casal do cartaz atrás do balcão. Não sei se o Gerry era o dono do bar ou o gerente. Mas sei que era uma figuraça. O cara que te expulsa se você não bebe álcool, que diz que só vai te atender dali a 3 semanas...esse cara é o Gerry (ele achou que eu era de Montreal, porque estava sempre no bar, e tinha um sotaque diferente). 

De dia, dá pra ver bem a "decoração"


Denise Arenales, Laura Cardoso, Gerry e eu


Em resumo. Se for a Victoria, não deixe de ir ao Big Bad John’s. É uma experiência única, necessária e muito divertida, pra quem realmente tem senso de humor.


A vida noturna em Victoria




Dizem que quando se está longe de casa, a gente vive como se fosse morrer amanhã. Eu mencionei, no post anterior, que eu procurei viver o máximo possível, conhecer o maior número possível de lugares. Eu nunca cheguei a terminar de ler o livro: “Comer rezar e amar”, porque ele ficava meio chatinho e religioso depois da Itália. Mas eu lembro muito bem de uma passagem em que a Liz Gilbert dizia que não conseguia sentir o mesmo prazer planejando coisas como casamento, quanto ao aceitar uma viagem para tirar a foto de uma lula gigante.

Em Victoria, eu me sentia assim a Liz Gilbert. De repente, eu era uma reporter aventureira.  Eu não me importava de andar sozinha pela cidade. Na verdade, preferia até estar sozinha, enquanto caminhava por Fernwood Road até Pandora, para depois chegar à Douglass, e ir pra Blanchard, ouvindo música e tirando foto das casas em estilo vitoriano.

Quando cheguei no Canadá, conheci várias pessoas legais, da Arábia Saudita, do Japão, da Coréia do Sul. Mas eles tinham os seus próprios planos, eu tinha os meus. Se os nossos planos coincidiam, ótimo. Se não, bom, paciência. Eles não esperavam por mim, eu não ia esperar por eles.
Os coreanos gostavam de fazer festas em casa, e eu queria estar do lado de fora, conhecendo o que eu pudesse no espaço de um mês. Por isso, eu quase sempre saía sozinha. Ou então, com a minha Host. E foi assim que eu fiquei conhecendo a noite de Victoria.

Logo de cara, fui chamada pela Cindy para ir ao Barts. Ou, como ela chamava, Farts. Porque era cheio de velhos babões, old farts. Mas a banda era muito legal. Era como uma Família Lima da vida (nossa, de onde eu desenterrei isso?), em que todos os membros da banda eram parentes. O tecladista e um vocalista eram filhos do outro vocalista, que por sua vez era sogro do guitarrista. E os dois filhos do outro vocalista eram gemeos gatos. A banda, the Sutcliffs, tocava rock dos anos 60, 70 e 80. O Peter contou para eles  que eu era do Brasil, e a banda começou a falar que tudo q eles tinham era do Brasil. Até as músicas, rock classico, eram brasileiras. Em um certo momento, eu e a Cindy nos empolgamos e eles deram os pandeiros para tocarmos enquanto eles cantavam. Viramos Fern e Sunshine. Momentos zoados que não têm preço. Muito Joan Jett, Rolling Stones, Beatles. Uma música que eu, a disléxica musical, não conhecia, (se vocês conhecerem, sintam-se livres para rir e me zoarem, não ligo) é “867-5309/Jenny” . A Cindy me explicou que ninguém quer ter esse número de telefone, porque todo mundo liga pra ele quando a música toca.
Eu, a Cindy e o Peter no Bart's

             Foto do cardapio de bebidas.
Para quem conhece a expressão: to drink the kool aid, a escolha do nome do drink foi bem engraçada.
 Em tempo: No final dos anos 70, Jim Jones liderava uma seita em uma comunidade criada por ele, Jonestown, na Guiana, e levou os seus “ seguidores” a um suicídio em massa, ao beberem Kool-aid envenenado com cianeto. Até hoje a expressão “To drink the kool-aid" significa ser maria vai com as outras, embarcar em uma furada, ou acreditar em uma mentira, sem questionar.

Em outro dia que fomos lá, a banda havia mudado. Um dos gemeos gatos tinha saido, o pai não estava tocando e a filha, a mulher do guitarrista, era a vocalista. Até o nome da banda era outro: Rock of the Ages. Um garoto igualzinho ao John Lennon entrou na banda. Quando eu falei: minha nossa, você é identico ao John Lennon (ou ao Cleats, aquele nerd do filme "Show de Vizinha"), ele falou: Todo mundo me diz isso” . Nisso, a Cindy falou pra mim, em off: “Então troca o modelo de oculos e o corte de cabelo”. 
Porque era mesmo igual. Os óculos, que para a minha geração eram do modelo Harry Potter, nele eram claramente um John Lennon. E ninguem mais usa cabelo joãozinho…

Agora, as boates. Eu fui em duas. A 9one9, embaixo do Sticky Wicket e a Upstairs, que, como o nome diz, fica em cima do Pub Darcy’s. Eu cheguei a ir no Darcy’s brevemente, mas foi num domingo, no meu ultimo dia em Victoria, e estava completamente vazio. Não dei sorte. Dizem que o pub Lucky tambem é bem legal.

Mas voltando ao assunto. Quem curte boates estilinho Zona Sul do Rio, Baronetti, Zero zero e tal, vai se sentir em casa na 9one9. Mesmo tipo de boate, mesmo tipo de gente. Tem até os playssons, aqueles tipinhos que andam de camisa regata para mostrar o “ muque” , cordão grosso de prata ou ouro, oculos escuros em espaço fechado, e gelzinho no cabelo. Em ingles esse tipinho é chamado de Chachi. Fiquei tão entediada que em um certo momento, encostei a cabeça em um dos sofas, e devo ter dormido, porque um dos seguranças veio me expulsar, dizendo que eu estava bêbada. Na verdade eu também estava cansada por causa da observação de baleias, na mesma tarde. Enfim, não curti. Um toque: não deixe de carregar a identidade e a carteira de habilitação, e deixe o passaporte em casa. Antes de sair do Brasil, tire também uma cópia autenticada do passaporte, para facilitar a expedição de uma permissão para voltar para o Brasil, caso perca o passaporte. A maioria das boates e bares aceita a identidade brasileira. Mas nem precisa fazer a carteira internacional do estudante. Eu fiz e não adiantou para nada.

A propósito: Toda quinta-feira é dia de boate gratis para os estudantes.

A Upstairs, em cima do Darcy’s, já foi bem mais legal. Tinha um ambiente mais alternativo. Músicas diferentes. Conheci um grupinho de pessoas na entrada e fiquei amizade com eles. Depois me perdi deles, e fui dançar com outro grupo que nunca vi na vida. Para as mulheres: nas boates, o comportamento dos homens não é muito diferente do dos brasileiros. Eles já chegam agarrando e beijando, se você deixar. Se não curte micaretas, deixe bem claro que não está interessada.

Em termos de Pub, eu virei habitué do Felicitas, o pub da faculdade. O preço é bem camarada, três dólares quando tem um evento como o Battle of the Bands, uma competição de bandas que rola toda segunda feira. Quando eu fui lá, eles tinham karaoke gratis toda quinta feira, e o bar fica muito animado. Foi no Felicitas que eu provei a cerveja de chocolate pela primeira vez. Achei um pouquinho mais fraca do que a cerveja normal, e pra mim, o sabor era mais de café do que de chocolate. Não gostei muito, mas valeu a pena experimentar.

Phillip's Longboat Chocolate porter: a cerveja de chocolate que eu experimentei no Felicitas.Não deixe de pedir uma amostra. Os bartenders colocam um dedo da bebida no copo, e você não precisa pagar nada, se não gostar.
 E o bartender de lá, Mike, é super gente boa. Todos eles são legais, mas o Mike foi todo atencioso. Eu o conheci jogando sinuca, conversamos, e quando eu voltei lá com a Cindy para a noite da salsa, ele estava em serviço como bartender e foi um fofo: conseguiu vários descontos para a gente. Não deixe de dar gorjetas para os garcons/bartenders/garçonetes.

Eu e o Mike, o bartender fofo do Felicitas.
Por ultimo, fomos ao Swan’s. É um pub bacaninha, com public variado. Mas se quiser conhecer pessoas, não é uma boa. As pessoas vão em grupos, ficam nas suas mesas, e mesmo na pista de dança não se misturam muito. 




Eu e a Cindy na pista de dança do Swan's
Da esquerda para a direita: Kaori e eu, andando na rua coberta de neve de Victoria.