sexta-feira, 1 de abril de 2011

A vida noturna em Victoria




Dizem que quando se está longe de casa, a gente vive como se fosse morrer amanhã. Eu mencionei, no post anterior, que eu procurei viver o máximo possível, conhecer o maior número possível de lugares. Eu nunca cheguei a terminar de ler o livro: “Comer rezar e amar”, porque ele ficava meio chatinho e religioso depois da Itália. Mas eu lembro muito bem de uma passagem em que a Liz Gilbert dizia que não conseguia sentir o mesmo prazer planejando coisas como casamento, quanto ao aceitar uma viagem para tirar a foto de uma lula gigante.

Em Victoria, eu me sentia assim a Liz Gilbert. De repente, eu era uma reporter aventureira.  Eu não me importava de andar sozinha pela cidade. Na verdade, preferia até estar sozinha, enquanto caminhava por Fernwood Road até Pandora, para depois chegar à Douglass, e ir pra Blanchard, ouvindo música e tirando foto das casas em estilo vitoriano.

Quando cheguei no Canadá, conheci várias pessoas legais, da Arábia Saudita, do Japão, da Coréia do Sul. Mas eles tinham os seus próprios planos, eu tinha os meus. Se os nossos planos coincidiam, ótimo. Se não, bom, paciência. Eles não esperavam por mim, eu não ia esperar por eles.
Os coreanos gostavam de fazer festas em casa, e eu queria estar do lado de fora, conhecendo o que eu pudesse no espaço de um mês. Por isso, eu quase sempre saía sozinha. Ou então, com a minha Host. E foi assim que eu fiquei conhecendo a noite de Victoria.

Logo de cara, fui chamada pela Cindy para ir ao Barts. Ou, como ela chamava, Farts. Porque era cheio de velhos babões, old farts. Mas a banda era muito legal. Era como uma Família Lima da vida (nossa, de onde eu desenterrei isso?), em que todos os membros da banda eram parentes. O tecladista e um vocalista eram filhos do outro vocalista, que por sua vez era sogro do guitarrista. E os dois filhos do outro vocalista eram gemeos gatos. A banda, the Sutcliffs, tocava rock dos anos 60, 70 e 80. O Peter contou para eles  que eu era do Brasil, e a banda começou a falar que tudo q eles tinham era do Brasil. Até as músicas, rock classico, eram brasileiras. Em um certo momento, eu e a Cindy nos empolgamos e eles deram os pandeiros para tocarmos enquanto eles cantavam. Viramos Fern e Sunshine. Momentos zoados que não têm preço. Muito Joan Jett, Rolling Stones, Beatles. Uma música que eu, a disléxica musical, não conhecia, (se vocês conhecerem, sintam-se livres para rir e me zoarem, não ligo) é “867-5309/Jenny” . A Cindy me explicou que ninguém quer ter esse número de telefone, porque todo mundo liga pra ele quando a música toca.
Eu, a Cindy e o Peter no Bart's

             Foto do cardapio de bebidas.
Para quem conhece a expressão: to drink the kool aid, a escolha do nome do drink foi bem engraçada.
 Em tempo: No final dos anos 70, Jim Jones liderava uma seita em uma comunidade criada por ele, Jonestown, na Guiana, e levou os seus “ seguidores” a um suicídio em massa, ao beberem Kool-aid envenenado com cianeto. Até hoje a expressão “To drink the kool-aid" significa ser maria vai com as outras, embarcar em uma furada, ou acreditar em uma mentira, sem questionar.

Em outro dia que fomos lá, a banda havia mudado. Um dos gemeos gatos tinha saido, o pai não estava tocando e a filha, a mulher do guitarrista, era a vocalista. Até o nome da banda era outro: Rock of the Ages. Um garoto igualzinho ao John Lennon entrou na banda. Quando eu falei: minha nossa, você é identico ao John Lennon (ou ao Cleats, aquele nerd do filme "Show de Vizinha"), ele falou: Todo mundo me diz isso” . Nisso, a Cindy falou pra mim, em off: “Então troca o modelo de oculos e o corte de cabelo”. 
Porque era mesmo igual. Os óculos, que para a minha geração eram do modelo Harry Potter, nele eram claramente um John Lennon. E ninguem mais usa cabelo joãozinho…

Agora, as boates. Eu fui em duas. A 9one9, embaixo do Sticky Wicket e a Upstairs, que, como o nome diz, fica em cima do Pub Darcy’s. Eu cheguei a ir no Darcy’s brevemente, mas foi num domingo, no meu ultimo dia em Victoria, e estava completamente vazio. Não dei sorte. Dizem que o pub Lucky tambem é bem legal.

Mas voltando ao assunto. Quem curte boates estilinho Zona Sul do Rio, Baronetti, Zero zero e tal, vai se sentir em casa na 9one9. Mesmo tipo de boate, mesmo tipo de gente. Tem até os playssons, aqueles tipinhos que andam de camisa regata para mostrar o “ muque” , cordão grosso de prata ou ouro, oculos escuros em espaço fechado, e gelzinho no cabelo. Em ingles esse tipinho é chamado de Chachi. Fiquei tão entediada que em um certo momento, encostei a cabeça em um dos sofas, e devo ter dormido, porque um dos seguranças veio me expulsar, dizendo que eu estava bêbada. Na verdade eu também estava cansada por causa da observação de baleias, na mesma tarde. Enfim, não curti. Um toque: não deixe de carregar a identidade e a carteira de habilitação, e deixe o passaporte em casa. Antes de sair do Brasil, tire também uma cópia autenticada do passaporte, para facilitar a expedição de uma permissão para voltar para o Brasil, caso perca o passaporte. A maioria das boates e bares aceita a identidade brasileira. Mas nem precisa fazer a carteira internacional do estudante. Eu fiz e não adiantou para nada.

A propósito: Toda quinta-feira é dia de boate gratis para os estudantes.

A Upstairs, em cima do Darcy’s, já foi bem mais legal. Tinha um ambiente mais alternativo. Músicas diferentes. Conheci um grupinho de pessoas na entrada e fiquei amizade com eles. Depois me perdi deles, e fui dançar com outro grupo que nunca vi na vida. Para as mulheres: nas boates, o comportamento dos homens não é muito diferente do dos brasileiros. Eles já chegam agarrando e beijando, se você deixar. Se não curte micaretas, deixe bem claro que não está interessada.

Em termos de Pub, eu virei habitué do Felicitas, o pub da faculdade. O preço é bem camarada, três dólares quando tem um evento como o Battle of the Bands, uma competição de bandas que rola toda segunda feira. Quando eu fui lá, eles tinham karaoke gratis toda quinta feira, e o bar fica muito animado. Foi no Felicitas que eu provei a cerveja de chocolate pela primeira vez. Achei um pouquinho mais fraca do que a cerveja normal, e pra mim, o sabor era mais de café do que de chocolate. Não gostei muito, mas valeu a pena experimentar.

Phillip's Longboat Chocolate porter: a cerveja de chocolate que eu experimentei no Felicitas.Não deixe de pedir uma amostra. Os bartenders colocam um dedo da bebida no copo, e você não precisa pagar nada, se não gostar.
 E o bartender de lá, Mike, é super gente boa. Todos eles são legais, mas o Mike foi todo atencioso. Eu o conheci jogando sinuca, conversamos, e quando eu voltei lá com a Cindy para a noite da salsa, ele estava em serviço como bartender e foi um fofo: conseguiu vários descontos para a gente. Não deixe de dar gorjetas para os garcons/bartenders/garçonetes.

Eu e o Mike, o bartender fofo do Felicitas.
Por ultimo, fomos ao Swan’s. É um pub bacaninha, com public variado. Mas se quiser conhecer pessoas, não é uma boa. As pessoas vão em grupos, ficam nas suas mesas, e mesmo na pista de dança não se misturam muito. 




Eu e a Cindy na pista de dança do Swan's
Da esquerda para a direita: Kaori e eu, andando na rua coberta de neve de Victoria. 

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