terça-feira, 5 de abril de 2011

sowoneul malhaebwa! Ou: a cultura asiática no Canadá





Quando fazemos intercâmbio, conviver com outras culturas faz parte da experiência. No meu primeiro intercâmbio, nos Estados Unidos, o convívio se limitava mais ao contato com outros americanos, e no máximo, imigrantes mexicanos. Mas também tive uma amiga japonesa, uma alemã e uma austríaca, e conheci outros intercambistas nas festas do intercâmbio, inclusive um brasileiro.


Em Victória, no Canadá, vi poucos negros, nativos (first nations) ou esquimós. Mas os asiáticos estão bem longe de serem minoria, principalmente em Victoria e Vancouver. A cultura asiática está por toda parte, sobretudo a coreana. Logo que cheguei no SUB (Student Union Building), em frente ao ponto de onibus, percebi a diferença, já que eu era a única “ocidental” naquele grupo. Depois, fomos fazer a prova de nivelamento, e eu vi alguns árabes, as mulheres de véu, e outras pessoas cuja nacionalidade não dava pra determinar logo de cara (descobri depois que eram brasileiros). O resto era coreano ou japonês. O engraçado é que eles esperam que a gente SAIBA a diferença física entre eles de cara. Demorou pelo menos umas duas semanas para lembrar o nome de todo mundo (meio desesperador, se você pensar que o curso durava apenas um mês) e os seus respectivos países.

Quando fomos nivelados, os professores nos deram pedaços de papel para escrevermos os nossos nomes (ou apelidos). Assim, Yu Bin Kim virou Bini, Ju Young virou Joy, Jim Bum virou JB (e depois, Justin Bieber ou Jaybe bird) e assim por diante. Todos os dias, a professora Elisabeth Labrick escrevia uma frase inspiradora no quadro, e tínhamos que comentar com experiências pessoais. Nas semanas subsequentes, cada um escrevia a sua própria frase no quadro, para motivar a discussão. Era uma forma de conhecermos um pouco de cada cultura. Na última semana, cada um teve que fazer uma apresentação em sala sobre um aspecto da sua cultura.

Mas era depois das aulas que nos conhecíamos. Foi no almoço, durante o primeiro dia, que descobri que na Coréia do Sul, eles contam a idade desde o primeiro dia de nascido. Ou seja, quando na verdade o resto do mundo está fazendo um ano, um coreano da mesma idade está fazendo dois. Que  em coreano, “anion asseo” que dizer oi, “nê ilimin Larissa” quer dizer “Meu nome é Larissa”, e que “dado ara” significa “eu sei”. Eu usava esta última quando eles começavam a engatar na conversa em coreano, e esqueciam que tinha gente de outras nacionalidades por perto. Bom, em geral era só uma brasileira, eu, mas não deixa de ser falta de educação.

Foi depois das aulas que eu descobri que a Naho, que era metade japonesa, metade coreana, gostava de Sex and the City, assim como eu. Que eu descobri que a Bini, a Joy e a Min cantavam super bem, e gostavam de praticar as coreografias do grupo Girls Generation, uma banda de umas 15 garotas, no banheiro. E que esse grupo é tão famoso que tem até musicas gravadas em japonês. Mas no Brasil, acho que só a minha amiga Jordana conhece (ela diz que outras pessoas conhecem, mas eu duvido). Mas quem sou eu para falar? Eu gostava das músicas da Thalia, quando tinha 13 anos.
Na primeira semana, fui em um karaokê coreano com a Bini, com a Joy e a Min. Logo que entraram, disseram “anion asseo” para o dono, que ficou todo feliz e nos deu um desconto. Cantamos por uma hora e meia, por vinte dólares. Enquanto eu escolhia músicas como “Don’t Speak”, e “Barbie Girl” ou “Telephone” (impossível, por sinal) elas escolhiam Hits como “Hoot” e Genie (sowoneul malhaebwa, que significa “Conte-me os seus desejos”…bem sugestiva hein?).
Min, Bini e eu, no Karaoke coreano
Eu, Min e Joy no Karaoke

Foi depois da aula, que fomos ao Surá, no Chinatown (devia ser Koreatown, porque tinha muito mais coisas coreanas do que chinesas), e comi Chap Chae, uma sopa de macarrão transparente de batata com o que parecia ser carne assada e legumes, e arroz como guarnição. É possível misturar o arroz na sopa, ou pescar a carne com os hashis, para mergulhar depois no tempero. Bom, possível é modo de dizer. Por mais acostumada que eu esteja a comer com hashis, os palitinhos sempre são de madeira, não de prata, e eu nunca tive que comer SOPA DE MACARRÃO com eles. Uma trabalheira danada. Isso porque não tinham “tomanocu”, uma comida típica coreana. Juro que é verdade que esse prato existe. Pode procurar na internet! Enfim, achei a comida deles um pouco apimentada demais para o meu gosto, Mas isso sou eu. No dos outros pode ser refresco (Tum Tum Tsss). Na verdade, o churrasco coreano até que tem um gosto bom, depois que você toma duas latas de coca cola, para recuperar o paladar. Bem melhor do que a sopa de macarrão transparente impossível de achar.




Eu no Surá, filando experimentando a comida da Bini. Aviso e comunico que não experimentei Tomanocu!



Chansong e Jieun posando pra foto, enquanto eu tentava decidir o que comer




Eu e o JB, meu irmão gêmeo coreano, no Surá (descobri que nascemos no mesmo dia, mês e ano, se considerar que na Coréia são várias horas de fuso horário à frente, e ele nasceu no dia 21 de março). 


Sobre o Chinatown, recomendo ainda um passeio de dia, quando a feira ainda está funcionando, e observar os legumes e verduras escritos em coreano, nas placas. Ou ir a uma mercearia coreana para comprar um biscoito igualzinho aos que a gente já conhece, estilo wafer ou palitinhos de chocolate, só para ver as embalagens diferentes.



Marcos, Bini e eu, na entrada do Chinatown 

Outro aspecto da cultura asiática, desta vez chinesa, que eu conheci, foi o Chá de Bolhas. A Kaori chamou a Jieun, a Chansong e eu para experimentarmos essa bebida tão polular no Canadá. Segundo a Wikipédia, o chá de bolhas é uma bebida à base de chá, com leite e açúcar, e bolhas de tapioca no fundo, mas a versão que eu experimentei tinha bolhas de gelatina. Tem gosto de Milk Shake, e você pode escolher vários sabores.






Descobri, sobre a cultura deles, que nem os coreanos, nem os japoneses, estavam acostumados a verem pessoas se beijando na rua. Boate, nem pensar. E os canadenses são iguais aos brasileiros, nesse aspecto. Se deixar, se agarram no ponto de ônibus, até alguém jogar água fria para separar.

Para os japoneses, a timidez não é apenas uma característica, mas uma virtude. É esperado deles, que olhem para baixo ao falar com as pessoas. Nunca diretamente em seus olhos. Isso seria considerado uma afronta. Acho que eles não tem nada contra quem fala olhando ligeiramente para cima, então estou tranquila. :-P Aprendi também que falam “ Itadakimas”, antes das refeições. Uma espécie de agradecimento pela comida. E que em japonês, "moshi moshi" significa alô, ao telefone.


Eu, a Naho e a Saori
Enfim, piadinhas à parte, foi muito enriquecedor conhecer essas pessoas de países tão diferentes. Isso nos ensina a conviver com as diferenças dos outros, e a respeitá-las. A perceber que não somos o centro do mundo, nem os donos da verdade. E que no final, muito mais do que pessoas que gostam de fazer sinais de vitória com os dedos nas fotos, os asiáticos têm várias coisas em comum com a nossa cultura, têm muito a nos ensinar em termos de reverência aos mais velhos, disciplina e esforço. É só ficarmos de mente e coração abertos.

A turma toda na formatura, menos os Árabes, que não compareceram no dia.


Da esquerda para a direita. Em cima: Min, Peter e Chansong. Embaixo: Jieun, Kaori, Bini e eu




Bini, eu, Saori e Naho



Um comentário:

Raquel M. Linhares disse...

Nossa! Parece até que você foi pra Ásia! Que coisa mais curiosa.

Eu lembro que quando fiz intercâmbio, os orientais escolhiam nomes em inglês para facilitar pros ocidentais.

Lembro de um diálogo deveras engraçado que se sucedeu entre um dos aluno orientais e o professor (que aliás, era canadense):

- Então, você escolheu o nome Joseph pra te representar. Pq esse nome?

- Eu estava no gotel, vi a Bíblia, folheei um pouco e gostei desse nome.

- É. Mais algumas páginas e você se chamaria Jesus.

hahahahahaha